As vocações na Fé Cristã

04-12-2013 18:03

A vocação primeira do cristão emerge pelo sacramento do baptismo: ser cristão!
Na certeza de que a sublime vocação do homem radica desde logo na “vocação à união com Deus” (GS,3), esta vocação do cristão desenvolve-se sucessivamente na vida em cada novo sacramento recebido e estes com expressão no estar e agir do cristão onde quer que viva, de modo a que se possa dizer: “Em nós se manifeste a vida de Jesus” (S. João de Ávila).
No guião do sínodo diocesano para o ano 2012-13 lê-se a pág. 10: “ As vocações são um dom de Deus à Igreja que é condicionado pela capacidade de resposta à Palavra de Deus e pelo esforço eclesial de as suscitar, acompanhar e confirmar.” Neste sentido, define-se pois vocação do cristão como a sua resposta na vivência da fé cristã. Assim, podemos considerar as diferentes vocações na igreja, ela própria sinal e expressão de Vocação no ser Igreja.
Mas neste ser Igreja há que equacionar o modo e a atitude como cada cristão, cada família, cada paróquia vê as vocações, promove o culto da vocação eclesial, cultiva o exercício da vocação e até a atitude por vezes de rejeição e de um certo ‘gozo’ ou palavras de paródia face a uma vocação emergente. Como entender tal comportamento por parte de um cristão em relação a uma decisão de outro cristão por seguir um caminho vocacional de serviço à Igreja?
É necessário alterar uma certa cultura cristã na relação dialogante com Deus e muito em particular no olhar e aceitar a vocação no serviço à igreja, seja na função de sacristão ou no serviço ao altar pelo Acólito, simplesmente na acção de Catequista, no papel de Ministro Extraordinário da Comunhão (MEC) ou como Ministro Extraordinário da Celebração Dominical na Ausência do Presbítero (MECDAP); mais sério ainda é o modo por vezes singularmente grotesco e jocoso, quiçá caricato e hipócrita, como se encara e fala da vocação eclesial, cristãos religiosos consagrados ou vocações no espírito do Sacramento da Ordem: Diácono permanente e Sacerdote. Até a vocação ao matrimónio é espelho da crise de valores e da mudança de conceitos e de paradigmas da família na sociedade contemporânea.
É adquirido e inegável que hoje escasseiam as vocações religiosas e ao sacerdócio. Mas é também justo e honesto reconhecer que esta falta de vocações ao ministério ordenado não é consequência só dos tempos e da cultura pagã que impera na sociedade. A expressiva falta de vocações para a vida cristã consagrada e de vocações ao sacerdócio é sobretudo resultado negativo do tipo de cultura cristã no seio das famílias e na vida das comunidades paroquiais.
Portanto, há muito a mudar na cultura vocacional da Igreja, da família cristã e de per si na pessoa cristã, e também alteração visível na relação com Deus.
É preciso valorizar o apostolado e o serviço à igreja como meio concretizador de uma certa relação com Deus. É necessário cultivar a oração e a participação na liturgia como acto de fé relacional com Deus e no sentido de pertença à igreja. É urgente alterar preconceitos, ditos e atitudes depreciativas para com a figura de membro do clero e de ministro extraordinário, bem como sobre outros serviços pastorais e litúrgicos.
Neste contexto da vocação cristã, tomemos para reflexão as palavras de S. Paulo aos Efésios (4, 11-13): “Cristo a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas e a outros pastores e mestres, para o aperfeiçoamento dos cristãos…”.
Saibam pois a família e a Igreja cultivar a vocação cristã pelo exemplo na fidelidade a Cristo e na propagação da fé em Cristo e da pura doutrina da mesma Igreja Católica e Apostólica, para que cada cristão seja capaz de viver bem a sua vocação de filho de Deus e se possa cantar: “Felizes os que morrem no Senhor” porque foram apostolicamente guiados e conduzidos a vida de santidade.
A bem das vocações na igreja, tenha-se a plena consciência de que “o dever de fomentar as vocações pertence a toda a comunidade cristã, que as deve promover sobretudo mediante uma vida plenamente cristã; concorrem para isso quer as famílias que, animadas pelo espírito de fé, de caridade e de piedade, são como que o primeiro seminário, quer as paróquias, de cuja vida fecunda  participam os mesmos adolescentes” (OT 2).
Chamados que fomos a ser cristãos, saibamos todos e cada um ser gratos a Deus e colocar ao Seu serviço os dons ou carismas Dele recebidos, “pondo-os a render ao serviço dos irmãos” (Barros Oliveira,1981, 81). Neste sentido, e em compromisso de vocação cristã, importa assumir responsável e conscientemente a própria vocação humana e cristã, e reflectir seriamente o que é que Deus quer de mim, seguindo-O alegremente. (id., 78)
Proença-a-Nova, 20 de Novembro de 2013

 Alfredo Bernardo Serra