GOSTARIA DE NOS CONHECER?

23-12-2014 12:21

Por: Padre Paco

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A comunidade dos Padres Missionários do Preciosíssimo Sangue, responsáveis desta Unidade Pastoral – Paróquias de Proença, Cardigos, Peral e são Pedro – encontra-se imersa na preparação da celebração do Bicentenário da Congregação (1815-2015). Com o intuito de darmos a conhecer de portas para adentro, é  nosso desejo abrir o coração da comunidade e partilhar convosco, amigos leitores, o nosso espírito e a nossa história.  
Nesta primeira coluna sentimo-nos obrigados, acima de tudo, a “louvar e bem-dizer sempre e em toda a parte, o Pai da Misericórdia e dar-he graças pela Sua Divina Providência para com a Congregação, durante estes duzentos anos” (Oração do bicentenário).  
Logo a seguir, sentimos a necessidade de reconhecer o débito de agradecimento que contraímos com esta terra e a sua gente ao longo da nossa história na península, já mais que centenária. O Concelho de Proença-a-nova foi sempre terreno único como seminário de vocações. Algumas não frutificaram, mas consta-nos que, espalhadas por toda a geografia, testemunham a Jesus Cristo com o espírito que os marcou estando entre nós.
A Província Ibérica dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, – Espanha, Portugal e Guiné Bissau – achou aqui o manancial do qual brotou uma dúzia de sacerdotes para o nosso Instituto.
Com estas linhas, queremos render homenagem àqueles que, já na “comunhão dos santos”, nos precederam no seguimento de Jesus Crucificado: PP: Farinha (Casais), Edmundo (Amoreira) e Armando (Pergulho); também a todos os que ainda semeiam nas comunidades paroquiais de Vila Viçosa, Verride e Proença as sementes reconciliadoras do Sangue de Jesus, divino e precioso: Adelino e Joaquim (Estevês), J. Luis Ferreira (Cimadas), Luís Manuel (Casais), J. Luís Morgado (Galisteu), L. Filipe (Proença), Virgílio (Malhadal), António (Oleiros).  
Como deixar fora desta homenagem as famílias e as aldeias onde nasceram e cresceram em idade, saber e crer? Para todos vós o nosso abraço e agradecimento: “levamo-vos no coração” (cf. Fil 1, 7)          
 

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Conheça primeiro São Gaspar del Búfalo. Entre connosco no espírito do nosso santo fundador e descubramos juntos a grande personalidade e a profunda espiritualidade que pussuiu um ser nascido frágil e quebradiço como o cristal. O pai, António, servia como ajudante de cozinha no palácio dos príncipes Altieri, Roma, enquanto que a mãe, Anunciação, se ocupava nas tarefas da casa e da educação dos filhos, Luis e Gaspar.
Perto daquele palácio, encontra-se a Igreja de Jesus, dirigida pelos padres jesuitas, que tinham a encomenda pontifícia de propalar pelo mundo a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O menino Gaspar, acólito desde a mais terna idade, pirogravou na sua alma, santuário sagrado, a imagem que os filhos de Santo Inácio descreveram fogosamente uma e mil vezes. Senti uma alegria muito especial no dia que vi, pela primera vez num dos altares laterais da Igreja Matriz de Proença, uma imagem de Jesus mostrando o seu coração ardente a Santa Margarida Maria, o ícone que Gaspar levou na sua intimidade durante toda a vida. A devoção ao Sagrado Coração, nem diminuiu nem  desapareceu.
Gozava, Gaspar, duma série de qualidades ou virtudes, provavelmente dons de Deus que lhe foram dados pelo Espírito do Senhor, que contribuiram poderosamente à consecução da sua santidade:  aplicação nos estudos, afeição à leitura, atração irresistível pelo mundo dos pobres e marginalizados, reconhecida capacidade para a liderança, facilidade para fazer amigos íntimos e perduráveis e, acima de tudo, foi dotado com um carisma muito singular, imprescindível para a missão que o Senhor lhe tinha reservada: as Santas Missões. Foi um grande pregador, famoso, inquestionável. Falava muito bem das boas coisas de Deus, da Boa Nova, do Evangelho de Jesus Cristo.
Com semelhantes dotes ou carismas consiguiu fundar uma congregação de sacerdotes diocesanos dedicados a evangelização dos povos fragmentados durante a invasão napoleónica. Estávamos no principio do século dezanove. 

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No artigo anterior, mencionei algumas das qualidades de São Gaspar del Búfalo. Hoje gostaria de explorar as que constituem o tripé no qual se baseou a fundação da Congregação por ele instituída. Gozava Gaspar do carisma que São Paulo qualificou como o mais essencial ao espírito de todo o cristão: “O maior de todos é o amor”(1 Co13,13). A graça do amor permitiu ao santo construir amizades, cuja intensidade manteria até o final da sua vida..
Se ao carisma do amor lhe agregamos o dom da liderança e a atração irresistível pelo mundo dos carenciados e marginalizados, já temos os ingredientes necessários para criar um grupo com eles, jovens estudantes, vocacionado para o serviço aos mais pobres de Roma.
Naquela altura, século XIX, existia na Cidade Eterna um hospício, Santa Gala, onde achavam refúgio os esquecidos da sociedade. Mais de trezentos leitos ocupados por doentes infecciosos e contagiosos, entre os que sobressaiam os atacados pela sarna e a tinha. O director, tão velho, era uma simples relíquia humana incapaz de suster devidamente uma instituição de tamanhas proporções. O líder Gaspar tomou a torcia do relevo e junto com os companheiros criou a “Liga Santa de Santa Gala”, conseguindo levar para a frente o que parecia decrépito.
Mas não acabou aí a ação solidária do jovem, já padre. Conseguiu combinar magistralmente o ministério pastoral na Basílica romana de São Marcos com a assistência ao hospício e a atenção à casa de correção Santa Balbina, onde eram internados os menores com graves delitos. Ainda lhe ficava tempo para visitar o “lar dos cem padres”.
A actividade social e caritativa de Gaspar e de seus amigos foi a semente do ministério missionário do Santo e dos seus filhos no futuro.