LUZES e SOMBRAS no NATAL

23-12-2014 12:21

A festa da Luz identifica-se à exaustão com o Natal. Sim, A festa de Natal, a celebrada efeméride do nascimento de Jesus. Aquele menino nascido da Virgem a quem o arcanjo Gabriel disse: «O espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.» (Lc 1, 26-37)
Foi este Menino nascer na manjedoura duma estrebaria porque nas estalagens e hospedarias de Belém já não havia lugar para eles. Também hoje em tantos sítios, em tantos lares e em tantos corações não há ainda lugar para o Deus-Menino, rei do Amor e Príncipe da Paz!
Comemora-se faustosamente o Natal nas casas de reunião das famílias à volta de mesa farta na consoada e com almoço rico do dia. Mas nos demais 364 dias do ano tudo é arredio dos valores luminosos da mensagem cristã, nega-se a caridade, o amor e a paz estão fora das relações humanas, o espírito de família vive na sombra do tempo e da mundanidade.
Das casas cintilam luzes que serpenteiam grades de varandas e nas árvores de natal. As ruas, avenidas e praças de aldeias, de vilas e de cidades ostentam garbosamente estruturas luminosas de mil formas, desde figuras de anjos a estrelas e outros motivos natalícios. Ao invés, naquele curral de animais certamente o Menino terá visto apenas um simples brilho de luz de fogacho da rua mal iluminada ou quiçá apenas o luar e o fulgir das estrelas do céu. Tanta luz de néon enche as ruas do mundo e tão pouco a Luz de Cristo irradia nos corações humanos. Tamanha é a sombra que marca as decisões políticas geradoras de fome e de guerra, causadoras de mais desemprego, potenciadoras de desigualdades entre iguais, inibidoras de perdão e dignidade humana. Tanta luz artificial e tantas sombras na vida das pessoas. Porque se celebra o Natal mas não se conhece a Luz, não há conhecimento do mistério do nascimento de Jesus.
Vive-se a Consoada em família, enviam-se mil mensagens de boas-festas para familiares, amigos e conhecidos ainda que virtuais. Trocam-se prendas de natal. Gestos bonitos que são marca própria da quadra natalícia. Mas ignora-se a pobreza humílima em que Jesus nasceu, por berço a manjedoura dourada pelas palhas alimento dos animais que provavelmente nem naquele lugar estariam para com o seu bafo aquecerem um pouco o menino nascido. Tudo se valoriza no celebrar o Natal com tais mensagens e presentes de Natal, mas nelas paira a sombra da ostentação e dos interesses pessoais, tudo soa a falsidade porque gestos e atitudes apenas feitos à luz da mundanidade e não verdadeiramente praticados segundo o espírito do Natal de Jesus nascido por Amor aos Homens.
Enche-se o adro do templo e o centro da praça com toneladas de madeiro que em fogo ardente irradiará calor e luz desde a noite de natal até ao dia de Ano Novo. Porque logo no viver o natal tudo se resume ao convívio iluminado pelos copos e animado pelo fulgor da tradição à volta do madeiro e no ir à missa do galo, depois no resto do ano refrigeram os corações dominados pelas sombras do mundo. Porque neles não há lugar para a Luz de Cristo.
Celebra-se efusivamente o Natal mas ensombra-se a vida com o aborto. Porque não se dá valor à vida como Dom de Deus. E assim se condena a Cristo.
A propósito do natal, percorrem-se caminhos e estradas, uns para passar o Natal em família outros apenas para mudar de ares atrás duma esperança qual rei mago seguindo a estrela no sentido de Belém. Mas à mais ínfima dificuldade tudo é enorme sombra. E na vida de casal ao mais pequeno contratempo vira-se costas ao compromisso dum projecto de vida, ignoram-se os filhos, abdica-se dum passado comum; por dá cá aquela palha tudo é pretexto para ralho e discussão que levam ao divórcio. Porque o egoísmo se sobrepõe à dedicação e à abnegação, porque o direito individual ensombra o espírito de sacrifício, porque a soberba e o orgulho confundem a capacidade de escutar e turvam a capacidade de perdoar. Porque não se conhece o homem justo de seu nome José, porque não se conhece a humildade de Maria, porque não se toma como modelo a família de Nazaré!
Vive-se o natal com a sombra do pai-natal do fato vermelho, símbolo do comércio! Perdeu centralidade o presépio de natal, perdeu lugar central o Menino Jesus. É preciso dar lugar ao Natal de Jesus, o nascimento do Menino-Deus, a verdadeira Luz da nossa vida!
É feito de luzes e de sombras este Natal ‘pós-moderno’, em que tudo é artificial, volátil e prolixo. Porque não nos revestimos das armas da Luz! Porque as luzes do mundo não têm por fonte as virtudes cristãs. Porque não é Natal todos os dias! Falta nascer Jesus nos corações!

AlfBernardo Couto