Pontos de Vista
Fragilidade eterna
“Muitas vezes, à beira de achar a receita da imortalidade, fui distraído pela presença pavorosa da morte.”
Héctor Abad Faciolince
Passamos pelos dias esquecendo a fragilidade da vida – e ainda bem, porque a presença excessiva da incerteza e do medo correria o risco de se tornar paralisante. Viver sempre de olhos postos no dia seguinte tem vantagens, mas convém de vez em quando pararmos para pensar que nada é tão garantido como o momento presente. Repetimo-lo cada vez que um acontecimento inesperado ou trágico nos faz tremer o chão, mas rapidamente esquecemos e prosseguimos como se fossemos imortais.
A literatura e o cinema estão cheios de reflexões sobre a importância de viver o momento presente, de o encher do melhor que temos para dar e de lutar pelo que realmente vale a pena. Carpe diem. Porque a vida é demasiado curta para ser desperdiçada e porque nunca sabemos o que o futuro nos reserva.
A questão é que este é mais um dos muitos temas em que dificilmente conseguimos adequar a prática à teoria. Se assim fosse cada um de nós…
…Sorriria mais e deitaria para trás das costas discussões e invejas sem real conteúdo. Olharia com mais intensidade para as pequenas coisas que nos rodeiam e tocam, beijaria com o olhar, pararia para escutar um amigo ou simplesmente para partilhar um silêncio.
…Acreditaria no poder dos sonhos e lutaria mais pela felicidade. Deitaria para trás das costas tudo o que pesa e prende e impede de levantar voo. Viajaria ainda que sem sair do sítio, voltando sempre ao sítio onde tem as raízes.
…Daria tanto como gostaria de receber. Esbanjaria bom humor, sorveria cada instante com prazer, encheria o baú de recordações de momentos imperfeitos mas eternos.
…Veria nos outros companheiros de viagem, nunca intrusos. Sabendo que só olhos com um pouco de céu lá dentro conseguem ver o melhor dos outros.
…Acima de tudo viveria sem pensar no que há para além da morte e sem querer ganhar o céu. Porque a eternidade é aqui e constrói-se agora. M. I. C.