Vida Consagrada

25-01-2013 14:56

A expressão “vida consagrada” significa a vida daqueles que se decidem dedicar a Deus de uma forma radical. Consagrar é passar da esfera do profano para o âmbito do divino. É tornar-se divino. Todos os anos a Igreja celebra a Semana da Vida Consagrada. Este ano é de 27 de janeiro a e 2 de fevereiro. Nos dias 9 a 12 de fevereiro, no Centro Paulo VI, em Fátima, vai-se realizar o grande encontro anual de formação e oração da Vida Consagrada com o tema: “Fé e vida consagrada, renovação para a nova evangelização”.

Quem são os consagrados?

A consagração existia e existe noutras religiões e fora delas. Ouvimos frequentemente que alguém se sagrou campeão numa determinada modalidade desportiva ou a sagração de Barack Obama como presidente dos EUA. Na religião judaica, a sagração do rei de Israel era feita com uma unção, isto é, untava-se com um óleo o corpo para exprimir a proteção de Deus para o cargo que passava a desempenhar e com sinal da investidura para esse cargo.

No cristianismo, o cristão é consagrado/ungido no Batismo sendo esta consagração confirmada conscientemente no Crisma, nas Ordenações Episcopais, Sacerdotais ou Diaconais e, por último, quando ficamos doentes com a Santa Unção. Toda a vida do cristão é um dinamismo que leva à consagração total como nos diz São Paulo «já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gal 2,20). Este dinamismo é alimentado pelo pão e o vinho consagrados na Eucaristia.

 

 

Esta expressão passou a designar um conjunto de pessoas que, ao longo da história da Igreja, quiseram dedicar-se a seguir Jesus Cristo mais de perto à luz dos conselhos evangélicos: castidade, pobreza e obediência. Podemos encontrar assim: os Institutos de Vida Monástica, Institutos de Vida Apostólica, Institutos de Vida Religiosa Laical e Institutos Seculares. De acordo com o estilo de vida que cada pessoa se sente impelida para seguir, assim o instituto que escolhe. Desde a vida monástica contemplativa à vida monástica com uma ação mais visível na sociedade, de um instituto que trabalha em campos concretos de apostolado como a saúde, educação, a assistência social, a pregação, a um instituto composto só de pessoas do sexo masculino ou feminino ou misto, só de padres ou freiras ou misto, só de leigos ou de leigos que recebem ordens sacras… O espetro da Vida Consagrada é assim muito vasto. «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos» (1 Cor 12,4ss). Há muitas formas de consagração e de Vida consagrada.

Nos últimos 50 anos, a Vida Consagrada sofreu uma renovação muito importante. O Concílio Vaticano II, por meio do Decreto Perfectae Caritatis, exortou à renovação tendo em conta a fidelidade ao seguimento de Jesus Cristo, à salvaguarda do espírito e intenção dos fundadores dos Institutos, o seu contributo específico para a Igreja Universal, a renovação espiritual dos membros por meio de uma formação adequada ao contexto social em que se inserem (PC 2). Esta renovação pessoal e comunitária encontra fundamento no cultivo da vida interior com Cristo em Deus. A renovação interior possibilita a renovação da missão, da caridade (PC6). Além dos conselhos evangélicos, a vida em comum, como os primeiros cristãos que viviam num só coração e numa só alma (Act 4,32), é um ideal a ser prosseguido no qual «os religiosos, como membros de Cristo, honram-se mutuamente em fraterna conversação, levando peso uns aos outros» (PC15) e «o exemplo da própria vida é a melhor recomendação do seu Instituto e um convite a abraçar a vida religiosa» (PC24).

Neste ano de 2013, o Consagrado é desafiado como todo o crente a renovar e aprofundar a sua fé. Se no passado, na Igreja, foi dado a conhecer o amor de Deus ao mundo também pela sua presença, hoje urge uma fé inculturada para que seja luz para as pessoas do nosso tempo. Daí que o tema proposto para a semana da Vida Consagrada de 2013 seja ”PEREGRINOS NA FÉ, APÓSTOLOS NA EVANGELIZAÇÃO DO MUNDO”.

 

A fé que me amadurece leva-me a colocar o centro da vida fora da minha pessoa.

Eu, Virgílio Martins, Missionário do Preciosíssimo Sangue, faço parte de um Instituto de Vida Apostólica que, além dos conselhos evangélicos e da vida em comunidade transversais a Vida Consagrada em geral, tem como específico o vínculo da caridade e a espiritualidade do Sangue de Cristo. Vivo numa casa que desejaríamos que fosse como a que São Gaspar, nosso fundador, sonhou: uma Casa de Missão onde padres e leigos se possam reunir para rezar, estudar, conviver, descansar e, acima de tudo, prepara-se para a missão. De facto, estamos a viver um momento de renovação num período em que contamos com quase 200 de existência na vida da Igreja, 25 como Província Ibérica e 45 de presença em Proença-a-Nova. Posso dizer que nestes 10 anos de missionário a perspetiva de vida mudou. Já não penso se gosto ou não gosto do que faço ou de onde estou. A fé que me amadurece leva-me a colocar o centro da vida fora da minha pessoa. Ser padre ou consagrado é ser para os outros à imagem de Jesus. Todos os dias vou discernindo como posso levar a cabo os projetos da minha comunidade e não tanto o que me traz mais prazer. Sei que agarrar-me a Cristo e ao espírito do meu Instituto, fundado por São Gaspar, são um modo concreto de servir a Igreja e a sociedade. Na medida que isso acontece vou sentindo um gozo espiritual e uma realização profunda e consistente da minha frágil e precária existência terrena. Às vezes, interrogo-me porque é que não há mais consagrados, padres, freiras e leigos comprometidos, mas isso implica «tenerlos en su sitio» não é para todos nem muito menos para os que querem empregos garantidos, salários avultados, reformas chorudas, serem tratados por Senhor Doutor, cheios de direitos e de pena por quem não os tem… Talvez vivamos num tempo caracterizado por um exacerbado antropocentrismo individualista no qual o eu pessoal é o centro, princípio e fim de todas as coisas. O sentido da minha vida, da vida dos que comigo vivem, tem que estar fora de nós. Hoje morreu uma pessoa, amanhã morrerei eu e o mundo girará à mesma velocidade. O espírito de serviço, da caridade, do amor proposto por Jesus é o único caminho para a consagração e realização plena. Quantos são os educadores que arriscam fazer o caminho da busca do sentido da vida com os consigo próprios, com os seus filhos, educandos, alunos, catequizandos? A coragem de sermos autênticos trará a renovação da consagração no presente e futuro.

P. Virgílio Martins