Comemoração dos 500 Anos da Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova

Comemoração dos 500 Anos da Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova

Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova

Celebrou 500 anos

 

No passado dia 17 e 18, a Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova celebrou os 500 anos da sua existência em clima de grande festa.

No dia 17, às 17H30, teve lugar uma procissão entre a capela da Misericórdia e a Igreja Matriz de Proença, onde às 18 horas foi celebrada a Eucaristia presidida pelo Sr. Bispo da Diocese, D. Antonino Dias e concelebrada por vários sacerdotes.

Na sua homilia, D. Antonino, começou por invocar as primeiras comunidades, a perseverança da sua fé, como sentiam necessidade de a aprofundar e por isso ouviam os Apóstolos e eram assíduos ao seu ensino, “e a partir daí eram capazes de dar razões da sua fé”, disse D. Antonino. Nos tempos de hoje é isso que é necessário, referiu dizendo: “É um desafio para nós ter esta capacidade de dar razões da nossa esperança e isso só acontece com o aprofundamento da nossa fé”. Destacou de seguida o Ano da Fé que estamos a viver “somos convidados a aprofundar a nossa fé. A vida é dom de Deus mas também é uma tarefa humana. Eu tenho que colaborar, que a desenvolver, através da leitura, da meditação do trabalho”. Depois deste aprofundamento da fé e desta confiança no Senhor e compromisso de vida, “somos convidados a esta adesão a Jesus Cristo, e as Santas Casas da Misericórdia são o espaço, são a extensão da própria fé, uma fé prática, uma fé incarnada”, disse D. Antonino. Desejou, já no final das suas palavras, “que os utentes sintam este amor como extensão do amor de Deus. As Santas Casas são pois a incarnação concreta deste amor de Deus, desta ternura de Deus”.

A Missa foi animada pelos irmãos Felícios, com cânticos que criaram momentos de grande elevação espiritual nos participantes. 

o dia 18, ao  toque jovem e vibrante dos Bombos da Casa do Benfica de Proença-a-Nova, iniciou-se a cerimónia às 10H30, junto da Santa Casa da Misericórdia, com a recepção ao Ministro da Solidariedade e Segurança Social, Dr. Pedro Mota Soares e restantes convidados, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, Engº João Paulo Catarino, Presidente da União da Misericórdias, Dr. Manuel de Lemos, Diretor da Segurança Social de Castelo Branco, Dr. António de Melo Bernardo, Provedores de diversas Misericórdias do Distrito, Irmãos,  Cuidadoras, familiares e amigos que não quiseram deixar de estar presentes nesta data tão marcante para esta Instituição que muito tem feito pelos idosos e pelas crianças da nossa terra.

Foi passado um filme sobre o dia-a-dia da vida dos idosos na Santa Casa e das crianças do Cortiço, que deram um ar da sua graça e cantaram para todos. Também os idosos abrilhantaram o momento com as suas músicas e danças.

Depois das palavras do Provedor da Santa Casa (que publicamos na integra na página seguinte), foi a vez do Presidente da União das Misericórdias Portuguesas Dr. Manuel de Lemos. Salientou a longevidade desta Instituição e de outras por esse país fora e isso deve-se, segundo ele, “porque as pessoas lhe reconhecem utilidade e não a arrumaram como tantas outras coisas”. Salientou também o “presente cheio de dinamismo e que se vê na equipa e que se viu na cerimónia de novos irmãos”. Dirigiu-se depois ao Sr. Ministro dizendo que ele “tem percebido como ninguém o alcance do termo cooperação com o sector social e com os agentes do setor social. E neste dia tão importante para as Misericórdias queria dizer-lhe que precisamos de governantes que ouçam as pessoas, que percebam as pessoas”. Já no final das suas palavras, destacou que, se as misericórdias sobreviveram até hoje, foi porque “se colocaram sempre do lado da solução e não do problema. E neste momento estamos a fazer mais com menos”, disse.

Usou de seguida da palavra o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, dirigiu palavras de apreço pelo trabalho desenvolvido pela Santa Casa ao longo dos anos. Salientou a sua importância referindo que esta é mais que “a sopa dos pobres”, “ -, que nos permitem continuar a acreditar que é possível garantir que ninguém viva abaixo do limiar da dignidade humana”. Continuou dizendo que “manter estas respostas sociais só é possível se o Estado continuar a financiar como o tem feito”.

Não esqueceu que não podemos ficar só à espera do Estado, mas cada um também pode dar um pouco de si aos mais necessitados.

Usou se seguida da palavra o Sr. Ministro da Solidariedade e Segurança Social, Dr. Pedro Mota Soares, que começou por referir a honra que é estar em Proença-a-Nova a celebrar estes 500 “e isso não era possível sem o empenho, tenacidade e dedicação daqueles que diariamente se entregam a este projeto, não apenas hoje, mas durante estes 500 anos e que transformam a vida destas famílias e lhes dão segurança, quer hoje, quer no futuro”.

Recordou a data de 18 de Maio de 1498, dia em Vasco da Gama chegou a Calecut, dizendo: “No mesmo ano em que os portugueses chegavam ao outro lado do mundo, criámos um modelo para chegar ao nosso semelhante que estava em dificuldades e que precisava de apoio”.

Destacou depois que a grande prioridade passa por “responder ao desemprego que temos e aos casos de maior exclusão social e de pobreza é um imperativo”, disse Pedro Mota Soares. Apoiar as  misericórdias e outras instituições de carácter social é dar resposta a quem precisa e aos crescentes casos que resultam da exposição à crise “foi por isso que mesmo em tempo de contenção, aumentámos 2,6% a verba dos acordos de cooperação, o que representa 1,2 mil milhões de euros de investimento no sector social, foi também por isso que, contrariando o que estava no entendimento assinado com a Troika, garantimos que estas instituições não sejam sujeitas ao pagamento de IRC e a devolução de 50% do IVA que as instituições têm, nas suas obras”. Segundo Pedro Mota Soares estas duas medidas fiscais representam 170 milhões de euros que ficaram na economia social.

Depois seguiu-se a inauguração do Mural em  homenagem à Cuidadora, obra da artista plástica Yola Vale e uma visita ao lar.

Na parte da tarde decorreu o almoço convívio animado pela música do grupo popular de Cernache do Bonjardim, no hotel das Amoras.

Há a salientar que foram homenageados 16 colaboradores que desempenharam serviço efetivo no Lar e no Cortiço, há mais de 25 anos. Parabéns pelo reconhecimento!

 

Palavras do Provedor da santa Casa da Misericórdia

 

Senhor Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Dr. Pedro Mota Soares, Sr. Presidente da União das Misericórdias, Dr. Manuel de Lemos, Sr. Presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, Eng. Paulo Catarino, Sra Presidente da Assembleia Geral dos Irmãos da Misericórdia, Dra. Filomena Gago, caros Provedores, Estimadas Entidades Oficiais, Irmãos da Misericórdia e Amigos

Meus amigos, antes de mais, quero saudar todos os presentes, em particular, quero saudar o Sr. Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Dr. Pedro Mota Soares. O senhor, como representante do Governo e do nosso País, veio até nós para nos ajudar. A sua presença e a de todos os Irmãos da Misericórdia e convidados é um sinal de que estais disponíveis para nos ajudar nesta tarefa de cuidar bem. Juntos, fazendo por isso, havemos de dar a volta por cima, nestes tempos difíceis que vivemos. Quero também expressar o nosso bem-haja às famílias que confiam na nossa Instituição, ao entregarem-nos os seus tesouros mais preciosos, as crianças e os seniores, que acolhemos com carinho e competência. Queremos continuar a merecer a vossa confiança. A nossa Instituição cuida bem. Quero agradecer ainda a todos os que colaboraram na organização desta festa para que tivesse a dignidade que merece. Bem haja a todos.

Estamos hoje em festa pelos 500 anos da Misericórdia de Proença-a-Nova. Estamos em festa para, juntos, aprofundarmos as razões da nossa esperança. Levo muito a peito aquele conselho da carta de S. Pedro onde diz: “Estai sempre prontos a responder, para vossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança.” Com doçura e respeito, porque, quantos aqui nos encontramos, estamos todos animados dos melhores propósitos de servir o bem comum, de servir a comunidade. Quero dizer, Sr. Ministro, que estou com o papa Francisco e consigo quando, numa sua entrevista recente, refere que “o verdadeiro poder é servir”.

Estamos em festa portanto para revisitarmos os caminhos percorridos desde a fundação. Para analisarmos as dificuldades do tempo presente. Para vermos com que meios, humanos e materiais, lhes vamos fazer frente. Finalmente para traçarmos os caminhos que queremos percorrer. E tudo isto, em traços breves.

Vejamos então os caminhos percorridos. À data da fundação da nossa Misericórdia, nós, portugueses, andávamos empenhados nos descobrimentos, em dar novos mundos ao mundo. Enfrentando medos e perigos, avançámos para o desconhecido. No ano de 1513 precisamente, Jorge Álvares, de Freixo de Espada à Cinta, do que hoje chamamos o interior norte do País, era o primeiro europeu a chegar ao sul da China. Chegou à ilha de Ling-Ting, onde ergueu um padrão. Muito nos espanta como é que um povo tão diminuto em população (seríamos entre 4 e 5 milhões) se atreveu a tantas aventuras. Como chegou tão longe e chegou para tanto. Mas, tal como diz Pedro Nunes, no Tratado da Esfera, “não iam a acertar mas partiam os seus mareantes mui ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geometria”. A aldeia global em que hoje se vive, a globalização, que é o quadro que tudo condiciona, na política e na economia, fomos nós, os portugueses, que a abrimos. Fomos os primeiros a fazer comércio com a China. Hoje, com a abertura do comércio a todo o mundo, temos os chineses á porta.

Neste mesmo ano, 1513, em Proença-a-Nova, seguindo o exemplo da Rainha D. Leonor, que fundara, em 1498, a Misericórdia de Lisboa, homens bons da nossa terra, tal como o Bom Samaritano, modelo do viver cristão, tiveram a coragem de se juntar. Para levantar esta Casa da Misericórdia. Com tal feito, sentimo-nos honrados por tão gloriosos antepassados. Temos a responsabilidade de ser dignos deles.

“ o verdadeiro poder é servir”.

Gostaria de evocar todas as pessoas de boa vontade que ao longo destes 5 séculos se dedicaram a esta causa. Começarei por lembrar um ilustre filho da nossa terra, o Padre Jesuíta, Dr. Pedro da Fonseca, filósofo e teólogo, bem conhecido além-fronteiras, pelos seus comentários à Metafísica de Aristóteles. Doou o terreno para a construção da Igreja da Misericórdia. Menos conhecida é a obra que realizou na área social, em Lisboa. Merece ser divulgada em opúsculo a vida de tão grande mestre. Desde sempre, viviam estes povos ao ritmo das estações do ano. Era frequente pedirem à Mesa da Santa Casa que fizesse sair em procissão o Santo Lenho. Para por termo, nuns anos, às secas prolongadas e noutros, às chuvas impiedosas. Santo Lenho que nos foi legado por Pedro da Fonseca.

Os seus familiares continuaram por muitos anos a viver por cá, ao serviço desta terra e da Misericórdia. De um deles, o Dr. António Freire da Fonseca, provedor que foi desta casa, no século XVII, 1609-1610, guardamos a campa brasonada, no nosso cemitério, que nos foi entregue, restaurada, pela Câmara Municipal. É o único testemunho vivo da ligação da família Pedro da Fonseca, a Proença-a-Nova. No cemitério, logo à entrada, à direita.

Vou agora trazer à memória os provedores que tive a dita de conhecer. E as equipas que conseguiram formar. Aqui saúdo com muita amizade os Irmãos que aceitaram formar equipa comigo. Somos 22, na Mesa da Assembleia Geral, no Definitório/Conselho Fiscal e na Mesa Administrativa. Peço que se levantem.

Na década de 50 do século passado. Vivíamos da agricultura, com a ajuda dos animais, vínhamos a pé para a missa ao domingo e estudávamos só até à 4ª classe.

-Veja a reportagem completa na edição do nosso jornal-